quarta-feira, 14 de abril de 2010

PAUL AUSTER E AS ALUNAS DE QUEM FUI ALUNO

Tenho encontrado, nos últimos meses, alunas de, quê, há seis, sete anos? (Seria já há dez?!) Eu mais grisalho, elas não: na mesma, na mesma, exactamente na mesma! Eram já brilhantes, sempre ansiosas pelo jogo de refutar os meus argumentos, e estão agora concluindo doutoramentos - preparando-se para ser arguidas por uns senhores de batina, que levantarão objecções mas, pobres deles!, não conseguirão melindrá-las minimanente.

Essa turma inigualável, de que me recordo muitas vezes, aventurava-se pela filosofia com uma intuição segura e uma curiosidade arrojada. Discutíamos acaloradamente durante a aula e, frequentemente, ficavam uma, duas, um grupo, a conversar comigo pelo intervalo fora.

Foi esta turma que me apresentou Paul Auster. Mais precisamente, foi uma dessas alunas brilhantes, que revi por estes dias. Eles eram todos leitores sedentos, apaixonados por descobertas; trocavam livros, partilhavam o que cada um deles achava.

Agora que, entretanto, me afastei de Paul Auster e raramente me sinto tentado a relê-lo, não posso esquecer o sentido da descoberta deste autor. Fiquei absolutamente fascinado com O Palácio da Lua, embora tivesse achado, já na altura, que havia demasiadas coincidências, nem sempre irónicas, para solucionar, como deuses ex-machina, os problemas que se punham ao desenvolvimento da narrativa. Mas A Música do Acaso, em contrapartida, era tecnicamente perfeito, seguindo uma ideia rica de possibilidades: quando tudo empurra o protagonista para um certo caminho, ele escolhe o oposto. E assim sucessivamente. Era, como se pode supor, um manancial de surpresas atrás de surpresas.

Com o lamechas Timbuktu - desculpem-me a franqueza -, Auster irritou-me; o meu interesse por ele reavivou-se através de uma série de contos e pequenos textos, entre os quais pequenas peças de teatro, repescados ao seu trabalho de juventude e reunidos num volume. O nome? Não me lembro, mas havia por ali, entre outras pérolas, um quasi-policial fabuloso, bem urdido e empolgante. O "quase" não é depreciativo, mas uma qualidade de um romance que até no género que adopta consegue iludir o leitor.

Qualquer das maneiras, é claro, o encontro de Auster é um exemplo do que tenho aprendido com os próprios alunos; «Aprendo muito com os meus alunos» tornou-se, bem sei, uma frase feita, um cliché politicamente correcto. Mas é verdade que as surpresas de um professor são sem fim; bem vistas as coisas, portanto, este post não é tanto sobre Paul Auster: é sobre aquela turma saudosa. Meninas, vamo-nos vendo.

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