sábado, 5 de junho de 2010

RAY LORIGA: PRIMEIRAS IMPRESSÕES


Leio este livro na iminência de uma revelação que não se dá: ou não se deu, ainda.

Explico melhor:
Tiago Torres da Silva (sorridente, na primeira foto), o extraordinário letrista de algumas das mais belas canções que conheço em língua portuguesa - mas também em crioulo e, ultimamente, em castelhano -, convidado a vir falar à Biblioteca da minha escola, dizia-me depois, numa animada conversa que oscilava perigosamente, como no passeio de um bêbedo, entre diversos temas:

«Já leste Ray Loriga? É um autor espanhol. É fantástico, é fundamental. Tens de conhecer: a tua visão da realidade e da escrita muda radicalmente. Foi a minha mais decisiva influência, nos últimos tempos...»

Não conhecia Ray Loriga. Mas fiquei impressionado e ansioso por mergulhar na sua obra.
Na livraria, que sim, sabiam de que se tratava, estava até traduzido; mas que, de momento,
se encontrava esgotado. (Tiragens pequenas; nenhuma reedição...). Se, todavia, eu quisesse esperar que mandassem vir...

Esperaria, é claro. Encomendei. Foi até essa a razão pela qual deixei o blogue em suspenso: o meu próximo texto teria de ser sobre Loriga.
Ontem, dirigi-me de novo à livraria. E Ray Loriga esperava-me, num livro publicado pela Difel em 1998, Heróis. Comecei a lê-lo imediatamente, sentado num banco à porta da livraria, aguardando ser arrebatado, levado por entre anjos, ao som de Bowie.

Infelizmente, porventura porque as expectativas eram insuportáveis e deslocadas, pressinto em cada linha promessas, mas não as vejo cumpridas (é sina!), como se entre o leitor que sou e a verdade radicalmente transformadora do texto não houvesse senão uma leve película que, no entanto, maldita película!, não me deixa passar, não me deixou ainda passar.

Claro que serei paciente e claro que serei justo. Percebo que o facto de estar a chapinhar à beira de água não prova que, uns passos mais adiante, esta água não devenha oceano. E, portanto, para o bem ou para o mal, o meu post sobre Ray Loriga está ainda por ser escrito. Só não quis deixar de partilhar também estas primeiras impressões de leitor à descoberta, de ansioso compulsivo, de homem com vontade de ter Fé, que ergue os braços ao céu e grita: «Mas então, Deus? Mostras-te ou não te mostras!?»

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