sábado, 10 de julho de 2010

DOSTOIEVSKI HÁ-DE VOLTAR PARA AGARRÁ-LA

Gosto muito de ler o blogue de Florinha Afável, embora, por vezes, me sinta um intruso, alguém que devassa uma intimidade, um voyeur. Todavia, é fascinante esse equilíbrio que Florinha consegue entre as suas confissões e a auto-análise destas, tudo servido por uma escrita muito viva, e pontuado pelas imperdíveis referências a livros, filmes, músicas que vai consumindo. Em suma, é, no mundo dos blogues, de uma originalidade extrema, que cativa e a que retornamos, como hipnotizados...

Soube, pelo seu blogue, informações algo intrigantes acerca da sua interacção com o Profissão: Leitor. A primeira, é que não tem conseguido comentar. Que tenta, que já tentou, mas lhe aparece uma sistemática mensagem de erro. Não sei que possa eu fazer quanto a isso, posto que não sou um às dos computadores. É uma notícia simultaneamente alegre (Florinha tem querido comentar) e triste (os comentários não aparecem...)

Do mesmo modo, uma sua outra notícia alegre-triste dá conta de que decidiu, seguindo um post meu, ler Crime e Castigo - e que não gostou taaaanto como esperava! Apesar de!

Que dizer, cara autora-leitora longínqua e próxima, senão que às vezes é duro sentirmo-nos responsáveis por conselhos que acabaram não sendo bem-sucedidos? Nunca escrevo para fazer estilo, amiga Florinha, e se não me custa assumir que há livros e escritores consagrados que nunca penetrei para lá das primeiras páginas (olhe, Ulisses de James Joyce: não fui capaz, não fui capaz, não fui capaz...), outros há que me agarraram com seus tentáculos - e certamente isso ocorreu com Dostoievski todo, que é, do meu ponto de vista - e não me atire já para o caldeirão dos infernos -, um psicanalista frequentemente muito mais profundo e interessante do que o próprio Freud. Basta, precisamente, ler Crime e Castigo para confirmar o que digo. Está lá tudo, avant-la-lettre. Tudo! A psicanálise, o existencialismo, o próprio Joyce (que não li, mas pelo que me parece...).

Mas, claro, se isso nos indica a importância e a grandeza da obra, não obriga a que dela gostemos. Espero que Florinha não tenha dado o seu tempo por inteiramente perdido. E, já agora, não deite fora Crime e Castigo: Dostoievski é um escritor enorme, original e observador, Florinha é uma escritora e uma leitora sedenta, fina e sensível - e as belas almas estão por força destinadas a encontrar-se, mais tarde ou mais cedo.

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