terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A MINHA MESINHA DE CABECEIRA


Uma amiga minha diz que leio como quem faz «zapping». Dito deste modo, pode parecer mal. Como se a minha leitura fosse superficial, deslizante, saltitando sempre, incapaz de descer até ao fundo. Não penso que assim suceda. Mas é verdade que os livros me crescem à volta e que gosto de mudar, me dispersar, não deixar nenhum fora de um minúsculo foco de atenção que seja. Onde me sento, brotam livros. Onde estou, aí vêm eles, não sei de onde, como erva ruim.

Na minha mesa de cabeceira, por exemplo, vai-se erguendo uma pilha. Já a dividi em duas torres mais baixas. Vejo, numa das bases, A Alma Conservadora, de Andrew Sullivan. Não o pus de parte, mas cheguei, há dias, a um ponto de saturação, e preferi repousar dele. Mais acima está, transposto para um francês contemporâneo, perfeitamente legível, Les Essais, de Montaigne. Gosto de ler alguma passagem à noite, durante aquele período em que todos se deitaram e se cria uma particular intimidade entre mim e as páginas. Sublinho-as, anoto-as.

E, por falar em «sublinhar» e «anotar», eis, ali, um outro livro em francês. Les Pensées, de Pascal. Tenho diversas versões em tradução portuguesa: este, trouxe-o da estante de meu saudoso tio (idolatrado, desde sempre, pela criança e, depois, pelo jovem que eu era...), precisamente porque tenho todo o interesse em interpretar e compreender os sublinhados e as anotações que ele fora fazendo: que encontrou o meu tio António em Pascal? O que considerou acerca de uma sua frase? Como a comentou? O que o fez deter-se num determinado parágrafo? (Contudo, ainda não principiei...).

Ah! O Fim-de-semana, de Bernard Schlink: comprei-o porque apreciara razoavelmente um outro livro do autor, O Leitor. Mas este não me prendeu. Falta-me decidir se desisti dele ou se ensaiarei uma nova tentativa. Próximo desse, o encantador A Canção de Amor de Prufrock, de T. S. Eliot, que li, reli e reli, mas fui buscar quando achei que seria possível escrever, sobre ele, um post.

De entre todos estes livros, todavia, há um que me vai guiando e que sigo continuada e demoradamente: Reviver o Passado em Brideshead, de Evelyn Waugh. Neste momento é o norte de que as outras distracções só por pouco tempo me arrancam.

Sentia-me eu confortável nesta «gestão» periclitante e confusa de tanto material? Pelos vistos não, não me chegava ainda. Porque, da Biblioteca da escola, cheguei com mais dois: O Abutre, conjunto de contos de Kafka, e As 3 Vidas, de João Tordo. É complicado? Não digo que não. Mas dá-me tanto prazer...

8 comentários:

Jamil P. disse...

Sou seu fã! :o)

josépacheco disse...

Agradeço o elogio (mesmo se um pouquinho irónico), mas, Jamil, não falo disto para me vangloriar: é um defeito, é um espartilhamento de atenção que me irrita nos outros, por exemplo nos meus alunos!

Jamil P. disse...

Longe de mim qualquer ironia, José, é que realmente gosto daquilo que você escreve e como o faz, especialmente neste post, com o qual me identifico em certa medida.
Às vezes as pessoas são mais interessantes por seus defeitos que por suas qualidades.
Felizes dos seus alunos, por ter um professor de tal gabarito.

Jamil P. disse...

* digo, 'por [seus alunos] terem'

sonia disse...

eu já nem teria dúvidas e começaria a implosão da pilha de livros por O Abutre de Kafka! Mas isso porque sou irmã de alma desse homem!

Adoro seu blog, só tem um defeito. Quando fico por aqui, queimo o almoço (aconteceu hoje!!!)
Abraços

josépacheco disse...

Fico muito feliz por essas opiniões e atenções. Esses mimos, como diria a brilhante Anita. Estou perfeitamente de acordo com Jamil, há defeitos (e sê-lo-ão, realmente?) que tornam as pessoas muito mais interessantes. Bem visto! Sónia, lamento o almoço queimado. Raios. Não conseguiu aproveitar nada?!

Zé alberto disse...

José, peço desculpa por vir aqui responder à sua mensagem no meu blog, sobre Jack Kirby, mas não consigo publicar a sua mensagem no post a que o José se refere.
Esta tarde o meu Gmail não me parece de facto estar a funcionar muito bem. Tentei publicar varias vezes o seu comentario e não consegui.

Nunca dei muita atenção à B.D., daí essa personagem me ter passado ao lado, ou seja, interessei-me, isso sim, pelo impacto visual da imagem do Jack kirby, muito cool.

abraço.

Zé alberto disse...

Sempre distraído, mais uma vez me equivoquei, o nome do detective é mesmo Rip Kirby e não Jack Kirby, como referi atrás.

Peço desculpa José, pelo equívoco.

abraço.