segunda-feira, 29 de outubro de 2012

PEDRO MEXIA

A meu convite, Pedro Mexia esteve, quinta-feira, na Biblioteca da escola onde sou professor, para uma sessão em que, no suporte da sua ironia, do seu sentido de humor contagiante e do seu saber enciclopédico, nos falou de Literatura, de Poesia e de crónica.

Quando falo do saber enciclopédico de Mexia, não me limito à fórmula comum. Ele é o intelectual que oscila tranquilamente entre Tintim ou o Surfista Prateado, e Eça de Queirós ou Virginia Woolf. E já sabemos que, para nos limitarmos aos três temas eleitos, abdicámos cruelmente de outras possibilidades da conversa - o cinema, o teatro, a rádio, a psicologia, até a filosofia, ou a economia. Isto é, Pedro Mexia representa, em Portugal, o que mais se aproximaria de um homem do Renascimento.

Que os livros deste homem inteligente e culto sejam tão pouco procurados, pode até não espantar. Mas é procupante. Que as editoras optem por destruí-los - guilhotiná-los - em vez de os enviarem para bibliotecas ou escolas, é imperdoável. Mas é o que sucede: procurando pela poesia de Pedro Mexia, discreta e perfeita, fui saindo, de sucessivas livrarias, com as mãos a abanar.

Mexia não tem romance. Tem teatro, mas duvido que o achem. Tem sobretudo livros que reúnem algumas das suas crónicas mais sagazes (que o são todas elas, de resto) ou compilações dos posts dos seus blogues. Oferecem-nos momentos impagáveis de observação, teoria, sensibilidade e humor. Poesia, já só talvez pesquisando na internet - descobrindo-a pelo menos aí, ou pedindo-a emprestada às bibliotecas, que para isso servem...

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

NIETZSCHE: ESTA PERGUNTA SERIA DE UM DEUS OU DE UM DEMÓNIO?


«O maior peso. Como seria, se um dia ou uma noite um demónio imperceptivelmente se arrastasse até à tua mais isolada solidão e te dissesse: «Esta vida, tal como a vives agora e tens vivido, terás de vivê-la uma vez mais e mais vezes sem conto; e não haverá nela nada de novo, mas sim te hão-de voltar cada dor e cada prazer, e cada pensamento e suspiro, e tudo o que é indizivelmente pequeno e grande na tua vida, e tudo na mesma ordem e sequência, e de igual modo esta aranha e este luar entre as árvores, e também este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência está sempre de novo a ser virada, e tu com ela, ínfimo grão de pó da poeira»; a questão em relação a tudo e todos, sobre se "queres tu isto uma vez mais e mais vezes sem conto?" permaneceria com o maior peso sobre as tuas acções! Ou então como terias de te sentir bem em relação a ti próprio. Não te lançarias ao chão, rangendo os dentes e amaldiçoando o demónio que assim falava? Ou experimentaste alguma vez um portentoso instante, em que lhe responderias: «Tu és um deus e eu nunca ouvi nada de mais divino!» [...]»

Nietzsche, A Gaia Ciência