sexta-feira, 8 de maio de 2015

EDITORA UTOPIA


Não tenho dúvidas de que um editor que tenha, na sua alma, a vocação de oferecer ao mundo aquilo que vale a pena ser lido, deve começar por ter criado uma exigente pureza da sua consciência leitora. Há-de manter incólume uma capacidade para descobrir segredos e raridades, mesmo depois de já ter lido muita coisa, muita coisa, muita coisa. [Porque se termos lido bastante nos refina o talento para descobrir o que é bom, lermos em modo de trabalho, de enfiada, já cansados e com a ansiedade do que nos falta ainda ler, confunde critérios e embota a perspicácia]. Sobretudo, um editor fervoroso não pode ceder ao preconceito. Não pode ler mais ligeira ou menos respeitosamente o jovem estreante, desconhecido, sem créditos. A isso me refiro quando lhe peço que mantenha a pureza do olhar, o gosto pela descoberta, a sensibilidade para a surpresa. O mais difícil será não ceder às expectativas do mercado. Ler sem pensar «Terá saída? Venderá bem? Haverá público para isto?» [Porque a pergunta certa parece-me outra: «Isto é mesmo bom? É excelente? Merece?»]
Arriscar contra a generalidade e contra quem manda. Esta seria a minha carta de princípios como editor.